sábado, 4 de fevereiro de 2012

Somos frágeis demais

A chuva deu uma trégua e o sol do verão resolveu, enfim, dar o ar da graça nesta terra do Zebu. E ele veio castigando mesmo, porque faz um calor infernal nesta tarde de sábado.

Semana corrida, muitas providências... é incrível como arranjamos coisas para fazer quando estamos em casa! Tenho apenas mais uma semana de férias pela frente, mas ainda não descansei absolutamente nada. Tá bom, sendo justa, me sinto muito melhor do que quando estava trabalhando. Mais produtiva, mais animada e ativa. Ao contrário do que eu sempre pensei, resolver assuntos domésticos pode ser uma experiência muito interessante.

A boa notícia é que encontramos alguém para trabalhar aqui em casa. Por enquanto está dando muito certo, estamos satisfeitos. Mais ou menos, porque meu digníssimo esposo está sempre com um pé (ou seriam os dois?) atrás. É o pessimismo em pessoa, sempre esperando que algo ruim aconteça. Hoje mesmo ele disse: "Está tudo perfeito demais, então não sei se vai dar certo." Dá pra acreditar nisso?

Mudando de assunto, quero compartilhar a experiência desta semana. Eu já havia comentado que minha mãe seria submetida a uma cirurgia para reconstruir um nervo do dedo indicador. Pois é, a dita operação aconteceu esta semana.

Como estou de férias - e, mesmo se não estivesse, daria um jeito - me encarreguei de acompanhá-la ao hospital. O procedimento seria simples, anestesia local com sedação, poucas horas de duração. Mas em qualquer circunstância, pensar que um ente querido está deitado em uma mesa cirúrgica gera um grande desconforto em todo mundo. Mal consegui dormir na noite anterior e fui cedinho me encontrar com mamãe. Minha irmã, desesperada por natureza, ligava o tempo todo para ter notícias... mesmo sabendo que a cirurgia seria apenas às 10 da manhã!! É, somos uma família de ansiosos mesmo.

Estar em um hospital não é uma experiência agradável para ninguém. Mamãe foi levada ao bloco cirúrgico e eu permaneci à espera do lado de fora. Minha irmã apareceu no seu horário de almoço e amenizou minha agonia por algum tempo. Demorou para liberarem minha mãe e enquanto eu esperava, o tempo parecia ter parado.

Nas longas horas de espera, o envolvimento com o ambiente é inevitável. Fiquei mais atenta aos movimentos das pessoas, observando cada um que entrava e saía do bloco. Os sons das macas sendo levadas pelos profissionais de enfermagem, as pessoas falando aos celulares, dando notícias dos seus. O lugar é uma mistura de sons, cheiros e sentimentos diversos.

De repente, puxei conversa com uma mulher que aguardava a saída de seu filho. Era o seu aniversário naquele dia - e também o do meu pai - e ele havia sofrido um acidente gravíssimo na noite anterior. A mulher não parava de dizer que seu filho nascera de novo, porque sofrera apenas uma lesão no punho, apesar da gravidade do acidente. Foi bom conversar com ela, conhecer sua história. Ficamos muito tempo falando de nossas vidas, nossos filhos (ela tem quatro), compartilhando nossa ansiedade.

Todas as pessoas naquele corredor de espera tinham histórias diferentes. Algumas muito tristes, outras mais alegres. Do outro lado, na entrada do CTI, as histórias eram muito piores. Comecei a observar as pessoas que entravam e saíam. Algumas choravam e seus semblantes eram muito sofridos. Fiquei pensando nos pacientes internados ali. Certamente, os motivos pelos quais permaneciam naquele hospital eram graves, talvez alguns estivessem há meses isolados, sem nenhum contato externo. E alguns, talvez não pudessem sair com vida. Os parentes que vinham visitá-los, só podiam vê-los à distância, sem poder tocá-los. Fiquei comovida com a dor daquelas pessoas.

Histórias diferentes, vidas diferentes. Mas uma coisa nos unia naquele momento: a consciência de que somos frágeis demais e de que a vida não é eterna.

Em um hospital, todas as pessoas são iguais. Obviamente, gente com situação financeira melhor acaba tendo um tratamento melhor; mas na essência, é tudo igual. Porque doentes, nos tornamos dependentes de outras pessoas, sofremos dores e ficamos totalmente expostos. Não importa se rico ou pobre, homem ou mulher, em um hospital, essas diferenças perdem a importância.

Quando saí com minha mãe do bloco cirúrgico, senti um enorme alívio porque ela iria embora naquela mesma tarde e não passaria a noite ali. Ao me despedir da mãe que ainda aguardava seu filho, desejei sinceramente o restabelecimento daquele rapaz que nascera pela segunda vez.

Esperando no hospital, tive a oportunidade de me colocar no lugar das pessoas cujos parentes estavam internados. De repente, em uma situação de doença, a vida para. É preciso paciência e dedicação para cuidar de quem está acamado. É preciso empatia para sentir a dor do outro, se solidarizar e doar seu tempo e amor, tentando amenizar o sofrimento do outro.

Mamãe vai ficar de molho por algum tempo. Será um período muito difícil para ela, que não gosta de depender de ninguém em nenhum momento. Mas existem situações muito piores e eu sei que esta fase passará e tudo voltará ao normal (se Deus quiser, o dedo dela ficará novinho em folha).

Todo mundo deveria visitar um hospital de vez em quando. Porque é uma bela oportunidade de tomar consciência da nossa frágil condição humana e valorizar a vida. Costumo dizer que não há problema pior do ficar doente. E com esta breve passagem pelo hospital, saio mais convicta desta verdade.

E falando em vida, não posso deixar de comentar sobre o aniversário do meu papai e de homenageá-lo. Na quarta-feira, dia 01 de fevereiro, o Sr. Pedro Donizetti Sudário completou 55 anos de vida. Pela situação de mamãe, a data passou praticamente em branco. Ele saiu do trabalho e foi para o hospital cuidar da sua "velha". Está se saindo muito bem como enfermeiro!


Papai é uma das pessoas mais generosas que conheço na vida. Já passamos por muitos problemas de convivência, mesmo assim, se eu pudesse escolher outro pai, com certeza eu escolheria ele. Com seu jeitinho simples e suas perninhas tortas, ele consegue cativar as pessoas.

Peço a Deus que conceda muita saúde ao meu pai. Isso é o mais importante. E que ele viva por muitos e muitos anos ainda.

Parabéns, papai! Te amo!