domingo, 12 de fevereiro de 2012

A difícil hora de cortar o cordão umbilical

Última semana de férias... já sentindo o coração apertado por ter que voltar ao trabalho e deixar minha casa e minha família outra vez. O coração aperta mais ainda quando penso no que vou encontrar nesse retorno. Não quero sofrer antecipadamente, porque isso não resolverá meus dilemas profissionais. Mas receio que eu vá encontrar novamente uma montanha de frustrações e decepções. Ai, vamos deixar pra sofrer na hora, né?

Quero contar sobre a primeira semana de aula do meu filho... nossa, como é difícil esse processo de cortar o cordão umbilical! Todo mundo diz que devemos criar os filhos para o mundo, para a vida, etc, mas na prática é tudo muito diferente. Eu sei dessa ladainha toda, reconheço a necessidade de preparar um filho para que ele se torne um adulto consciente, independente e responsável pelos seus atos. Também admito as terríveis consequências advindas de atitudes de pais superprotetores, que tratam seus filhos como bebês.

Só que no momento de deixar meu filho na escola pela primeira vez, não me lembrei de nada disso. Simplesmente sofri uma dor indescritível e chorei feito uma criança abandonada.

Comecei a sofrer alguns dias antes, quando arrumava o material escolar, o uniforme... me sentia ansiosa, mas estava animada com esta nova etapa da vida do meu filho. A ficha só caiu mesmo na segunda-feira, horas antes de levá-lo. Eu iria deixar o meu bebê para ser cuidado por outras pessoas, convivendo com crianças desconhecidas.

Meu marido afirmava que se nós dois fôssemos à escola, Pedro Nicholas não iria ficar. Iria se sentir abandonado. Não foi isso o que aconteceu.

Quando fomos deixá-lo, ele rapidamente juntou-se às outras crianças, entusiasmado com o novo ambiente e sequer se despediu de nós. Ficamos parados lá, como dois bobos, observando-o, esperando alguma reação, esperando que ele sentisse nossa falta. Não sentiu.

Aí a ficha caiu: estava rompido o cordão umbilical. Meu filho já não é mais aquele bebezinho frágil e dependente. Ele já interage com outras pessoas, já conquista seu espaço no mundo. E a mim, como mãe, cabe apenas o papel de coadjuvante nesta história. Preciso deixá-lo crescer.

E quem disse que é fácil? Caramba, como dói! Não tenho a menor vergonha de admitir isso. Deve ser uma espécie de egoísmo, do qual padecem as mães, que querem seus filhos sempre por perto, dependentes.

Os sentimentos se dividem: uma parte de mim ficou feliz por ele não ter sofrido nesse momento de separação. Afinal, seria terrível se ele chorasse, como muitas crianças choraram. Me senti orgulhosa pelo jeitinho dele, desbravando aquele ambiente novo.

Mas a outra parte sentia um abandono, uma solidão. Era como se eu não representasse nada pra ele, porque ele me relegava ao segundo plano de sua vida. Ah, Jacqueline, tenha dó! Foi melhor assim, sem choro (dele, porque eu chorei a tarde toda), sem que ele sofresse.

Nos outros dias, tudo se repetiu. A euforia de voltar à escola, para fazer "babunça", como ele costuma dizer. O parquinho, a Tia Patrícia, o espaço cuidadosamente preparado para acolher o meu bebê. E eu, ansiosa pela hora de ir buscá-lo, para que tudo voltasse a ser como antes.

Sei que não voltará. Meu filho está crescendo e isso é o mais importante. A partir de agora, muitas outras partidas acontecerão. Vai chegar uma hora em que ele não nos deixará levá-lo até a escola; irá sozinho.

Nesta hora, ser mãe é mesmo padecer no paraíso, mas é pra isso que estamos aqui, não é?


Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes  de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre,
e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias de igual maneira.
Crescem de repente. (Affonso Romano de Sant'Anna)