sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sobre pessoas e suas atitudes mesquinhas

Desde sempre, condenei as pessoas por reclamarem de coisas feitas a outras pessoas, jogando na cara favores ou doação do que quer que seja. Também detesto ver gente agindo como coveiro, desenterrando fatos passados, revivendo situações, sofrendo mágoas antigas e chorando pelo leite derramado. E, principalmente, abomino pessoas mesquinhas, aquelas que reclamam o  tempo todo por dinheiro (ou pela falta de), que se negam a ajudar o próximo ou que ajudam, mas alardeiam pelos quatro cantos a sua benevolência, como forma de ocultar sua total mesquinharia.

Na minha cabeça, o passado deve ser mantido em uma outra gaveta da nossa vida, devemos aprender com ele, mas jamais pautar nossas atitudes presentes sobre fatos já ocorridos. Deve-se ajudar às pessoas sem esperar algo em troca, ou seja, a generosidade verdadeira transcende a vaidade e o egoísmo.

Bom... sempre pensei assim.

Mas esta semana, dois acontecimentos familiares, no mesmo dia, obrigaram-me a refletir um pouco melhor sobre estas questões.

Justamente esta semana, assisti a uma belíssima cena da novela "A vida da gente", onde as duas irmãs que se idolatravam discutem ardorosamente, atirando suas verdades na cara uma da outra. Esta cena corrobora minhas conclusões: ser mesquinho é inerente ao ser humano. Talvez os estudiosos do comportamento discordem, mas basta observar como nos transformamos quando nos sentimos ameaçados ou somos magoados por alguém.

Nesses momentos, nos tornamos mesquinhos, porque cobramos todas as dívidas (financeiras ou emocionais) que o outro tem conosco. Remexemos no passado, desenterrando todas as ossadas de acontecimentos ocorridos há séculos, enfiamos todos os dedos em feridas antigas, provocando dor e mágoa. Para nos defender, partimos pro ataque. E, claro, tem o outro lado; o oponente também age da mesma forma. E, no final, o jogo termina empatado, mas com grandes e doloridas lesões em ambas as partes.

Não pretendo fazer uma análise comportamental, apenas registrar minhas observações sobre minhas próprias experiências. Porque esta semana, durante algum tempo, remoí mágoas antigas, relembrei dívidas e julguei pessoas.

Felizmente, o bom senso me impediu de dar voz aos meus pensamentos e proferir em alto e bom som toda a minha "verdade". Fui prudente em não discutir com minha família; apenas desabafei com minha irmã, a "vítima" de uma das situações.

Sobre o outro caso, este ocorrido dentro de minha própria casa, também preferi abafar o turbilhão de pensamentos e indignação, evitando que a panela de pressão dentro de mim explodisse. Aos poucos, fui ponderando e avaliando a melhor forma de lidar com isso. Explodir, discutir ou brigar não seria a melhor opção. Permanecendo calada, a única a sofrer com minha ira seria eu mesma. E, de fato, sofri. Dores de cabeça e do estômago, mal estar e indisposição foram as consequências dos meus pensamentos mesquinhos.

Fico pensando se em outro momento conseguirei o mesmo controle. Talvez expor logo os fatos resolveria o problema na raiz, mesmo provocando um cataclismo familiar. Guardar rancores faz mal e uma hora a panela explodirá.

Mesmo assim, consegui evitar grandes transtornos e me senti em paz com os outros, pelo menos por enquanto.

Ainda estou tentando ficar em paz comigo mesma, porque não é fácil reconhecer em si sentimentos que sempre condenou. Não vou me justificar dizendo que a força das circunstâncias me tornaram uma pessoa mesquinha. No fundo, talvez eu estivesse errada o tempo todo e sim, eu sou uma pessoa mesquinha. Como todos os outros sentimentos, que sequer imaginamos possuir, a mesquinharia está presente, mas permanece oculta, esperando uma oportunidade para aflorar. Diante desta descoberta, resta-me apenas mantê-la sob controle, guardadinha bem no fundo para que ela não predomine na minha vida.

Há algum tempo, li no blog da Ida Lenir a seguinte frase: "O bem e o mal são humanos. Somos todos egoístas, hedonistas".

Eis aí uma grande verdade, contra a qual não se pode lutar, afinal, somos humanos e, portanto, imperfeitos.