segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O cacarejar das irmãzinhas

Apesar do fim de semana animado, um fato desagradável aconteceu para minar minha alegria.
Ontem à hora do almoço tive uma breve, mas chatíssima discussão com minha irmã. O motivo: a terrível exclusão familiar a que me sinto exposta. Novamente, em dois momentos nos últimos três dias, fatos relevantes me foram omitidos, provocando outra vez o dolorido sentimento de culpa por estar ausente e alheia às agruras de minha família.
Desta vez, minha manifestação de revolta foi veementemente rebatida por minha irmã, através de palavras ríspidas e hostis. Simplificando, ela "desceu o barraco", literalmente. E na fúria defensiva, atirou-me na cara toda sua verdade, expressando uma intensa mágoa pela minha pessoa. Fui chamada de egoísta e melindrosa, acusada de possuir "outras prioridades" e não me importar de fato com o que acontece com meus pais, de ficar esperando tudo na mão, de achar que o mundo gira à minha volta, etc. Enfim, fiquei ouvindo, ouvindo, até que não suportei mais e mandei-a calar a boca, em alto e bom som, para toda a vizinhança ouvir.
Esta atitude impensada só fez aumentar a tensão e a discórdia. Não éramos mais duas irmãs unidas, parecíamos galinhas defendendo seu espaço no galinheiro, em um horrível e desnecessário cacarejar. Até que resolvi deixá-la sozinha e me recolhi em outro canto da casa.
Confesso ter me abalado bastante com todas aquelas palavras e, principalmente, pela atitude da minha irmã. Mas o pior foi a minha incapacidade de me defender, a falta de argumentação. Simplesmente fiquei ali, prostrada, olhos marejados, com um enorme vazio, como se tivessem me arrancado todos os sentimentos. Uma parte de mim desejava ir embora, levando minha família; a outra parte dizia pra não me ofender, afinal, não seria a primeira vez que minha irmã e eu nos descabelávamos em discussões inúteis. Além disso, eu jamais privaria meus pais da presença do meu filho, pois isso sim seria uma atitude de absoluto egoísmo.
Foi preciso a intervenção de uma criança sábia, de apenas 11 anos, para nos fazer voltar à razão. Minha sobrinha, a quem me irmã nutre verdadeira paixão, agiu com extrema maturidade e nos convenceu a acabar com aquela cena ridícula. Como sempre acontece - nesse ponto assumo a estupidez do meu orgulho - minha irmã deu o primeiro passo e me pediu desculpas. No fim das contas, fechamos nossos galinheiros e retomamos nossa relação de irmãs que se amam, apesar de todas as diferenças e problemas.
Como eu disse, não foi a primeira (e não será a última) vez em que nós duas fomos às vias de fato, nos ofendendo e atirando nosso rancor uma na outra. Esta também pode ser considerada uma discussão bem leve, comparada a outros arranca-rabos passados. Acontece em todas as famílias.

Só que neste momento me sinto mais fragilizada e sensível a esse tipo de situação, o que complica um pouco as coisas. Não se trata apenas de um desabafo, mas o que ele representa. É interessante observar como nas discussões afloram todos os piores sentimentos, ou melhor, como as pessoas manifestam tudo aquilo guardado no exercício da "política da boa vizinhança". Nessas horas, a gente conhece o que realmente se passa na cabeça das pessoas, o que elas pensam de verdade sobre nós.
Não acredito em certo e errado neste caso; ambas temos nossos pontos de vista e opiniões, divergentes ou não, e não se pode afirmar quem está com a razão. Aliás, isto é o que menos importa neste momento, porque essa discussão insana com minha irmã me fez refletir sobre muitas coisas.
Recuso-me a fazer o lamentável papel de vítima e cheguei à conclusão de que preciso rever minhas atitudes; afinal, pra que insistir na imposição de minha presença? Se acharem conveniente me participar sobre os acontecimentos, estarei pronta para cooperar no que puder. Mas se preferem manter distância, nada posso fazer, apenas aceitar a vontade da minha família, por mais difícil que seja.
Uma vez minha irmã, numa dessas crises entre nós, escreveu o seguinte: "além de achar que a sua verdade é a verdade do mundo, ainda ironiza quando as pessoas querem realmente ser leais a você." É dolorido ouvir esse tipo de opinião, ainda mais partindo de alguém que me conhece tão profundamente.

Posso estar agindo errado esse tempo todo, posso ter cometido um monte de bobagens, deixado transparecer uma imagem negativa, mas jamais me achei a dona da verdade, muito menos quis ironizar ou desprezar (deve ter mais alguém pensando isso a meu respeito) minha família. Meus pais e meus irmãos significam muito na minha vida, tenho por eles um profundo respeito e haja o que houver, vou amá-los para sempre.

Ainda cacarejaremos muito nesta vida, afinal somos "pessoas que cultivam a arte de conviver, tão iguais e tão diferentes, que se amam, se desentendem, fazem as pazes e se completam." 

Por tudo isso, eu não saberia viver sem minha irmãzinha, porque os bons momentos, a cumplicidade e o amor entre nós superam todas as tolices e estranhamentos que por desventura possam ocorrer.
Te amo, Lindona!!!!