terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Melancolia pré-aniversário

Hoje acordei um pouco melancólica, apesar de ter aguardado ansiosamente por este dia para resolver uma série de problemas. Problemas de ordem prática, obviamente. Dia de fazer a tão esperada matrícula do meu filho na escola, de fazer as compras dos presentes de natal (estou há tempos preparando uma lista de presentes, mas ainda falta alguma coisa pra definir), dia de encomendar meu bolo de aniversário...  é, talvez seja este o motivo da minha melancolia.

Sempre adorei fazer aniversário, assim como adoro o mês de dezembro e as festas de fim de ano. Mas desta vez ando com uma sensação de "estar faltando alguma coisa", algo ainda não esclarecido na minha mente. É uma vontade de ter realizado algo a mais, de ter vivido mais, aprendido mais...

Coincidentemente, no blog do VAE, o post de hoje fala exatamente sobre isso. Gisela Rao comenta sobre o que ela chama de "vazio existencial no fim do ano" e reforça que este vazio faz parte de nós e quando ele bate, devemos apenas abraçá-lo para não doer tanto.   

Retrocedendo um pouquinho nos últimos anos, recordo-me do fim de ano de 2009, quando eu estava grávida, trabalhando num ritmo alucinado. Era um tempo de intensa expectativa, porque eu estava chegando aos 45 do segundo tempo, carregando um barrigão e uma enorme vontade de ver a carinha do meu filho. Na empresa, meu aniversário aconteceu durante um Kaizen e o bolo de todos os anos foi compartilhado com a equipe, na sala onde realizamos os projetos.

Jamais me esquecerei do presente que ganhei de um operador, Amilton: uma correntinha de ouro com um menininho. Foi tão singelo e surpreendente que fiquei super emocionada na hora - ok, grávidas se emocionam com tudo - mas esse gesto inesperado marcou muito a data, porque aquela lembrança simbolizava o mais aguardado dos presentes, meu filho.

Naquele aniversário, eu me senti tão completa e feliz que não houve espaço para melancolia; havia apenas a ânsia de completar aquele ciclo, tão esperado e plenamente vivido.

Já em 2010 a data também foi recebida com ansiedade, porque era um tempo de mudanças no trabalho e, principalmente, na minha vida. Todo o ano foi de adaptação e muito, muito aprendizado. Eu havia deixado de ser a filha para me tornar mãe e esse processo exigiu uma boa dose de paciência e esforço. Mas sobrevivi e, posso dizer sem falsa modéstia, fui aprovada com louvor, embora me sentisse cada dia mais insegura na tarefa de cuidar de um ser tão dependente e complexo. Não posso deixar de agradecer à ajuda providencial de quem sempre esteve por perto nesse ainda curto caminho (muitos anos virão ainda), apoiando e participando em cada conquista. Primeiro ao meu amor e companheiro, Daniel, pai mega presente e colaborativo; aos avós, amorosos e dedicados, comparecendo nas horas de aperto. Minha irmã, confessora nos momentos de desabafo e alguns amigos que deram aquela forcinha básica.

Neste ano, comemorei meu aniversário já com o pimpolho nos braços; o presente agora exigia dedicação incondicional, mas trazia consigo, em um único sorriso, a maior felicidade que eu poderia desejar.

E agora, prestes a completar 33 anos de vida, essa sensação incômoda de querer algo mais soa como ingratidão à vida e isso dói. Porque sou uma criatura abençoada por tudo que tenho, mas ainda assim sinto um vazio esquisito. Amanhã levarei ao trabalho o tradicional bolo, receberei os abraços, as congratulações, terei a presença das pessoas amadas... por que então não me sinto plenamente feliz?


Talvez eu não consiga neste momento encontrar respostas às minhas dúvidas, nem sei se quero de fato encontrá-las, pois posso me surpreender demais vasculhando a mim mesma, ou descobrir, como diz a Gisela, uma enorme sabotation à minha auto-estima.

Por enquanto, contento-me em acreditar que tudo não passa mesmo de uma de uma simples crise boba, comum com a chegada da maturidade, afinal, mais um ano de vida pode significar, para os pessimistas, menos um ano de existência.

Prefiro enxergar o copo meio cheio e acreditar que amanhã esses devaneios se dissipem em meio aos muitos abraços que espero receber - isso é, sem dúvida, um confortável alívio a todas as dores.